Por um lado, prevalece há séculos a noção convencional da Mãe Preta construída pela sociedade racista: um símbolo de subordinação, abnegação e bondade passiva.
Por outro lado, surge o retrato da mulher negra construído por ela própria na ação social, na militância política e na vivência cultural.
Mãe Preta ( Autor: José de Freitas (1889-1984)
Foram muitos "nenéns" que se amamentaram
Pretos e brancos, todos recém-nascidos
Dos brancos até doutores se formaram
São irmãos de leite, porém desconhecidos.
Na Senzala à tarde faziam oração
Para agradecer a Deus o trabalho do dia,
E para "Mãe Preta" com fé e boa intenção
Encerrava-se a reza com a "Ave Maria":
Um monumento por filhos desconhecidos:
Até em ouro poderiam erigi,
Em troca dos afagos também recebidos
De quem muitas das noites passou sem dormir.
Salvem mães pretas escravas santas
Que por Deus serão sempre abençoadas,
Já deram vidas à muitas crianças
Até mesmo à crianças enjeitadas.
Mãe preta de nome bem aventurado,
Representando a santa mãe Universal.
Sois digna de uma data feriado
Com bandeira hasteada e hino Nacional.
Fonte: Unicamp
Dia da Mãe Preta
A MÃE PRETA
Afinal,o dia dela chegou;dia de homenagear um dos pilares na formação social e cultural da família brasileira nos séculos XVIII e XIX,a ama-de-leite,a mãe preta,que forjou a personalidade de muitas gerações de brasileiros,principalmente
As iaiás coloniais casavam muito cedo,não só para proteção contra os apelos da carne,como também,pela escassez de mulheres brancas ,indispensáveis á formação das famílias brasileiras.
Meu S. João.casai-me cedo
Enquanto sou rapariga,
Que o milho rachado tarde
Não dá palha,nem espiga.
A ama era figura fundamental na Casa Grande.Era escolhida pela docilidade,pela higiene,pela força(física e espiritual)e pela beleza.A maioria dos criados de dentro eram angolanos,que logo se adaptavam ao dia a dia dos Engenhos e assimilavam facilmente os costumes e a religião dos brancos,embora jamais perdessem suas características africanas,como o linguajar “mole” e as crenças nos seus deuses primitivos.Pelo contato com as Iaiás,tornavam-se quase pessoas da família,confidentes e leva-e-trás das mocinhas e senhoras.
Mas,a função principal da ama era criar o sinhozinho,amamenta-lo,cui
Uma boa ama tinha que ser corpulenta,carinhosa,seus peitos deviam ser nem muito rijos,nem moles demais,os bicos nem muito ponteagudos,nem encolhidos,segundo o médico J,B.A. Imbert.Pela boca da ama ,os guris aprendiam as primeiras palavras,os ôxente,os pru mode,absorviam superstições,como o bicho papão,o homem do surrão e o saci pererê ,o curupira.A negra “amaciou a língua portuguesa,para desespero dos padres puristas,como fazia com a comida dos nenén,tornando a carne dura mais palatável,com o molho de ferrugem,e,o pirão mais comível,com o amassado das verduras e os caldos suculentos.As palavras,como o alimento,desmanchavam na boca.
Daí vieram as palavras Cacá,bumbum,pipi,dindinha,
As amas e mucamas também eram responsáveis pela iniciação sexual das iaiás e sinhozinhos,ensinando-lhes
E,as orações,então!?Ainda me lembro que aprendi e ensinei a meus filhos e netos ,as orações que minha mãe aprendeu de minha avó,que aprendeu das negras:
Com Deus me deito
Com Deus me levanto.
Com a graça de Deus
E do Espirito Santo.Ou.
Santo Anjo do Senhor,meu zeloso guardador,se a ti me confiou a piedade divina,sempre me rege,guarda,governa,ilumin
Rogai com affecto
Por nós miseráveis
A Deus,vosso netto.(escrita no português da época).
Rendo minhas homenagens a essas mulheres extraordinárias,que tiraram o leite de seus filhos para alimentar e nutrir os filhos de seus algozes e lhes ensinou,além dos mistérios da vida,o amor,a confiança,as crenças e os valores que hoje são o alicerce das sociedades modernas.
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